#26 | O bloqueio criativo não existe (e outras mentiras que contamos para nós mesmos)
Quando o problema não é a criatividade — é a vida que está travada
"Estou com bloqueio criativo."
Se você trabalha com criação, já disse ou ouviu essa frase dezenas de vezes. E sempre que um amigo designer, redator ou diretor de arte me procura dizendo isso, minha resposta é a mesma:
Bloqueio criativo não existe.
O que existe são fases difíceis da vida que escorrem para o trabalho.
Método > Inspiração
Quando alguém me pergunta sobre dicas para "não cair no bloqueio criativo", eu sempre volto ao básico: método e processo.
Porque quando você sabe o que precisa fazer e tem as ferramentas certas, não há tempo para ficar pensando que está bloqueado.
Busca de referências também é fundamental — sempre manter sua "mochila de ideias" cheia para quando precisar resgatar algo. Na teoria, parece fácil. Na prática, a questão é mais profunda.
O que chamamos de "bloqueio criativo" raramente é sobre trabalho. É sobre estar travado em alguma outra área da vida.
A honestidade por trás do processo
Não é que eu nunca tive momentos difíceis. É que, para mim, bloqueio criativo simplesmente não é uma categoria que existe.
O que tenho são fases mais pesadas da vida — e quando isso acontece, não é só o trabalho que fica difícil. É tudo.
Por isso, minha estratégia sempre foi me manter ativo, mental e fisicamente. E isso, meu amigo, já é 80% do trabalho.
Tenho uma rotina de exercício físico diária. Nunca falho, porque sei que isso impacta diretamente minha produtividade, meu humor e minha capacidade de resolver problemas.
Também mantenho minha rotina de leituras — o que me ajuda a estar sempre aprendendo algo novo. E não precisa ser técnico: pode ser uma história engraçada, uma poesia, qualquer coisa que me tire do piloto automático.
A cura está fora do escritório
Para mim, a "solução do bloqueio criativo" está nas atividades que me fazem esquecer completamente do trabalho:
Estar perto da natureza. Me divertir com os amigos. Sair com minha esposa. Passear com meu cachorro.
Parecem coisas simples e rotineiras, mas quando feitas com intenção, têm o poder de recarregar nossas energias e nos manter abertos para novas ideias e experiências.
Então, antes de dizer que está com bloqueio criativo, tenta meditar sobre o que realmente está acontecendo.
Será que é sobre criatividade mesmo? Ou tem algum outro aspecto da sua vida que precisa de atenção nesse momento?
O paradoxo da IA: facilidade que nos torna preguiçosos
Falando em clareza mental, tenho reparado em algo que vários artigos discutem ultimamente: a "burrice programada" que a IA pode causar.
Faz muito sentido. A gente se torna cada vez mais preguiçoso para atividades que antes exigiam um nível maior de cognição — e que agora podem ser automatizadas com a IA.
Eu gosto da facilidade que ela me traz, mas de vez em quando é bom ignorar o resultado da IA e tentar refazer aquilo com seu próprio conhecimento.
Comparar os resultados. Juntar os dois. Pedir uma correção apenas com a IA.
Acredito que devemos trabalhar com a inteligência artificial para que nosso trabalho se torne melhor — não mais preguiçoso.
A questão que fica
Se você se identifica com essa conversa, talvez a pergunta não seja "como sair do bloqueio criativo?".
Talvez seja: "o que na minha vida precisa de atenção para que eu possa criar livremente de novo?"
Porque, no fim das contas, criatividade não é um recurso finito que às vezes acaba.
É um reflexo da nossa energia vital — e energia vital se cultiva fora do trabalho.
Se esse texto fez sentido para você, me responde aqui: como você tem cuidado da sua energia criativa? O que tem funcionado (ou não funcionado) para você?
Grande abraço e uma ótima semana.
Te espero na próxima curva.