#22 | High Pace Runners — Quando a comunidade cria a marca
Um grupo de corrida de Curitiba que virou movimento urbano
Quando a Suzi e o Pedro me procuraram, eles já tinham improvisado um logo para o projeto. O Pedro comentou: “Gosto desse logo, acho que não quero mudar, só precisamos fazer uns adesivos e tal.” Mas, ao aprofundar a conversa sobre as ambições do projeto, ficou claro que havia algo maior ali.
Desde o começo, Pedro foi direto: “Não quero nada hype. Quero um bagulho underground, das ruas mesmo. Só pra galera estar junto e correr.” A proposta era simples: ocupar a cidade, unindo pessoas através da corrida.
Eu já vinha acompanhando a Ciele — uma marca canadense que começou vendendo bonés para corredores amadores e se transformou numa referência em comunidade. Assim como a High Pace, a Ciele nunca se tratou apenas de produto — mas de cultura e pertencimento. E Pedro também já observava movimentos semelhantes no Brasil.
Entendi que o centro de tudo seriam as pessoas. E, nesse caso, a marca teria que ser mais reflexo do que direção — a expressão visual de algo que já existia vivo e pulsante.
O mascote, o logo e o espírito do corre
Começamos com ícones locais: o pinhão, o lobo-guará. Mas foi o lobo que ficou — pela simbologia da matilha, do coletivo que corre junto, do instinto. Pedi a um amigo artista que fizesse o sketch inicial, e a partir disso refinei o desenho, vetorizei e criamos as variações. Assim nasceu o mascote da High Pace: o lobo.
Já o logo da comunidade, por outro lado, foi pensado para ser fluido, solto, sem grid — assim como a própria proposta da HPR. Ele não impõe, não centraliza. Ele acompanha. O lobo e o logo funcionam juntos, mas também podem viver separados. Como a comunidade, que tem múltiplas expressões, mas uma mesma alma.
Comunidades como estratégia de branding
Hoje, mais de 500 pessoas se reúnem todas as quartas-feiras às 20h para correr pelas ruas de Curitiba. Já foram destaque na TV, firmaram parcerias com a Olympikus e com diversos comércios locais. Mas nada disso teria acontecido se o foco não tivesse sido, desde o início, a comunidade em primeiro lugar.
E isso não é um acaso — é uma tendência global.
De acordo com um estudo da Zeno Group, consumidores têm 4 vezes mais chance de comprar de marcas com propósito forte e alinhado a valores que refletem seu estilo de vida. (Fonte: Zeno Purpose Study)
Outro dado, da Harvard Business Review, mostra que comunidades de marca geram lealdade mais duradoura do que campanhas publicitárias, porque oferecem um sentimento de pertencimento. Marcas como Nike, Glossier e Patagonia entenderam isso cedo. Elas criaram rituais, símbolos e espaços de troca — e deixaram que as pessoas ocupassem esses espaços à sua maneira.
Mas atenção: criar uma comunidade não é uma tática de marketing. É uma construção viva, que parte de um porquê verdadeiro e só depois se transforma em marca. A ordem importa.
E a High Pace é um exemplo real disso: a marca nasceu da comunidade — não o contrário.
Conclusão
A High Pace Runners começou como um grupo de amigos ocupando a cidade correndo juntos. Um ano depois, virou símbolo de uma nova forma de se conectar, de cuidar da cidade e uns dos outros.
Não nasceu para ser hype — nasceu para ser real.
E é exatamente por isso que ela cresce: porque quando a marca representa algo verdadeiro, ela não precisa gritar. Ela corre junto.
Se quiser saber mais, confira a matéria completa aqui: Corre de Sábado RPC
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